Capítulo IX – Quanto menos queijo menos cultura.
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“Meu amor me breganhô, mais cum isso qui mi importa,
eu vou priguntá ele, quanto recebeu di vorta”.
A moldura cultural enquadra símbolos, valores, crenças e saberes identificados, traços assentados como propriedade do grupo social. São inerentes, próprios e funcionam como laços de integração, de aglutinação. Indumentárias escolhidas que vestem a maneira de ser da coletividade, cumprindo papel de representação. Contribuem na ordenação e produção de elementos da estrutura e da ordem sociais porque foram reconhecidos, selados e carimbados, por consenso entre as pessoas, como presença distinguida entre os elementos da sua identidade.
Muitas são comuns “desd’o Amazonas ao Prata”, do Pantanal ao Agreste, encontradiças no cidadão comum brasileiro características regulares gerais. Portanto, estendem-se pelo nosso sertão. A partir de estudos clássicos comumente aceitos, segue-se um resumo do nosso “jeitão” geral de ser, mais ou menos presente em todo o território nacional, ressalvados os desvios e falhas, indefectíveis em todos os reducionismos, podendo, portanto, não ser totalmente aplicáveis em alguma subcultura, ou povos e culturas tradicionais, se ainda preservam algo próprio. [1] [2] Vejamos alguns, talvez mais intrigantes, ou provocadores.
“Os problemas do país não são da nossa alçada”. Aguardamos que sejam resolvidos ou achamos que não há solução (Vem da docilidade, da falta de iniciativa, da preguiça diante da inventiva, e da acomodação, ócio em preferência ao negócio, sintomas que padecemos endemicamente). Abatidos intelectualmente, gostamos de cultuar o diploma. Raquíticos em racionalidade, deixamos o misticismo avançar sobre nós, chegando às raias do ridículo (este traço é facilmente observável por toda a parte. Poucos povos ocidentais são tão afeitos ao mistério, ao fantástico, ao inatingível).
O mesmo citado autor vê o brasileiro irritado e emotivo. Então, nós mineiros seríamos uma mutação. Gostamos de mastigar bem as coisas, trocar figurinhas, esperar, “desensofrimento azanga negócio”. Talvez seja influência das montanhas aguardar com calma o sol aparecer e, enquanto isso padecemos de alguma melancolia, é o que pensa João Torres.[3] Este mesmo autor cita Tristão de Ataíde, que teria dito que “não se compreende um mineiro fanático”. Não somos xiitas, extremados, arribados. Da mesma maneira, Darcy Ribeiro vê em nossa personalidade a capacidade de entristecer-se. O fim da era aurífera talvez tenha sido um bom motivo de internalização desse traço.
Em outro grupo de traços destacam-se: a cordialidade, a hospitalidade, o respeito às instituições, a caridade, a afeição, a ordem, a individualidade, a resignação, a sexualidade e o erotismo e, um tanto contraditoriamente, a rigidez, o espírito de ordem, o sentido de dever e o gosto pela rotina.
A vaidade está incluída, mas isso não é privilégio tupiniquim. É o pecado preferido do tinhoso, regozijo do anjo do mal. Energiza a besta porque vício universal, é erva daninha grassando pelo mundo afora, qual narcotráfico — não há cancelas das fronteiras que consigam detê-la.
É citado, ainda, o nosso amor pela paz, tantas vezes manipulado no estímulo a não intervenção, deixar as coisas se resolverem pelo diálogo — na prática é quase um monólogo, eles falam e nós dizemos “sim, senhor”! “A docilidade da população é um trunfo precioso. Há que decantar isso, louvar a índole pacífica dessa gente, aclamar a mistura de raças e culturas, apreciar a alegria incontida”, anota Pedro Demo.[4]
Muitas vezes acontece de darmos risadas enquanto comemos o pão que o diabo amassou. Nesse caso, novamente, nós os mineiros seríamos uma exceção. Pelo menos diz João Torres, “altas montanhas condensando as nuvens… o sol tardio a aparecer e cedo desaparecer por detrás da serra”, tudo isso nos fez a nós mineiros pessoas acabrunhadas, de uma “tristeza implacável e uma profunda melancolia”.[5]
Guerreiro Ramos, por seu turno, analisando a administração no contexto brasileiro, fala da nossa dificuldade em estabelecer vínculos com o tempo, da nossa relutância em cumprir prazos e programações. Segundo ele, somos tomados pelo “vício do amanhã”.[6] Reconheçamos, é uma chaga nacional. Contorcemo-nos todos quando instados a assumir um compromisso no calendário. Mesmo quando se solicita apenas uma ideia de tempo de execução de uma atividade, sem compromisso efetivo, saltamos “de banda”, pulamos “de isgueio”. Ônibus na plataforma da rodoviária, com motor aquecido, sai com dez, às vezes quinze minutos de atraso. O horário anunciado (e escrito na passagem) é apenas uma sugestão. O prejuízo social dessa prática é incalculável, pois o tempo, o cronograma, é o principal ingrediente de uma tomada de decisão, estabelecendo, efetivamente, um plano de ação, um horizonte. Sem montar vínculo com o tempo, toda a conversa se acomoda no plano das intenções — é “vamos ver”, “ahn”, não é projeto, compromisso.
A famosa lei de Gerson, proposta através de antiga propaganda, apesar de faltar-lhe embasamento científico é aceita empiricamente por todos e, a seu modo, consuetudinariamente, vai sendo validada em todo o território nacional.
Outra chaga dificilmente se fecha: da sovinice, do “pindura” e do calote. Registros antigos contam que os lusitanos se achavam no direito de não pagar por aqui os serviços prestados pelos seus colonos. Teríamos herdado daí essa “graça”?
Mais especificamente, sobre a mineiridade, Guimarães Rosa, Carlos Drummond, Fernando Sabino e tantos mais descreveram nosso jeito. São boas sínteses da nossa natureza alterosa dois conhecidos motejos:
Dois bois mineiros, um velho, o outro garrote, postados no alto do morro, olhavam uma porção de vacas pastando. O boizinho, afoito: “Vamos descer correndo, e pegar umas dez!”. E o boizão, tranquilamente: “Não, vamos descer devagar, e pegar todas!”.
— Ô, compadre, o meu cavalo tá com o mesmo problema daquele seu malhado. O que você deu?
— Eu apliquei soro nas feridas.
Decorridos uns dias, encontrando-se de novo com o vizinho exclamou:
— Uai, compadre, eu passei o remédio, mas o meu cavalo morreu!
— Uai, compadre, o meu também!!!
Nossa espiritualidade: as religiões
“Pras” nossas bandas, também é o Cristianismo que ocupa o centro da contrição, desde tempos imemoriais, incorporando inevitáveis mudanças e variações sincréticas, ao sabor das necessidades.
Ele se instalou através do catolicismo, nas primeiras ocupações dos lugares: os topônimos homenageavam os santos, e a construção do templo simbolizava a posse. Aos poucos, se multiplicou na fundação das irmandades, procissões e tantas outras práticas de fervor.
As igrejas evangélicas apareceram mais recentemente, abrangendo importante espaço, na crença e fisicamente, pois muitas cidades contam com templos, nas diversas denominações existentes, em especial a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a Congregação Cristã do Brasil e a Igreja Mundial. Os primeiros resultados do censo de 2010 dizem que, em cada quatro brasileiros, um se declarou evangélico. Um novo livro poderá se ocupar das razões pelas quais atendem às necessidades, e de que maneira o fazem, alcançando resultados bem visíveis, não somente no crescimento contínuo de adeptos, tal como na firme fixação de preceitos.
A doutrina espírita é bastante difundida na região, e vários conterrâneos se destacaram no conhecimento dos princípios e leis codificados por Alan Kardec, e na prática da caridade. Sacramento, da região do queijo de Araxá, é a terra natal de Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), famoso médium, educador, empresário, político, meio diploma de médico e farmacêutico prático. [7]
Entre os imigrantes italianos que arrancharam junto às margens do Ribeirão Bora, em “Passa Perto”, [8] chamava-se Achilles Nolli, um bresciano atarracado, de voz metálica retumbante. Simpatizou-se com o Espiritismo, influenciado pelo clarividente pela difusão do código, suas respeitadas faculdades mediúnicas e seus trabalhos humanitários junto às comunidades menos favorecidas. Certa feita, Achilles recebeu de Eurípedes a prescrição de um unguento qualquer para aplicação em uma erupção no braço. Dias depois, um encontro casual dos dois amigos deu-se sob certo constrangimento do paciente, pois este não se valera do remédio e nem mesmo se lembrava mais onde o tinha colocado.
— Não podia sarar mesmo… disse Barsanulfo, examinando. Você deixou a pomada cair atrás do criado-mudo do seu quarto e não usou…
Em casa, Achilles recuperou a latinha conforme indicado e terminou o tratamento, com sucesso.
Contudo, visivelmente, a secularização vem ganhando no corpo-a-corpo diário. Declina a influência religiosa, cotejando com tempos passados. As estatísticas mostram o enfraquecimento das religiões enquanto engrossa o quadro de adeptos ao “partido” dos que se declaram agnósticos ou ateus. Esse afastamento parece ser proporcional ao tamanho da população da cidade (faltam levantamentos que confirmem). Bem, convenhamos, nós mineiros, não somos fundamentalistas, até mesmo a religião evitamos levar com excessos, exacerbadamente. A intransigência, a ortodoxia não se dão bem com nosso jeito.
Nas fazendas pesquisadas não é mais seguido o preceito antigo da não fabricação do queijo na Sexta-Feira Santa. As explicações variam e fazem sentido. Religião não é isso, preciso do pingo no dia seguinte, o bezerro não pode mamar tudo, adoece, ninguém mais vem até as fazendas buscar o leite para fazer doce e entregar a instituições beneficentes, ou distribuir entre parentes como ocorria nos tempos de antanho. Essa última explicação é interessante, do lado do beneficiário as mudanças acompanharam. Se eu ganho, “num carece” fazer. Enfim, não sendo tão guardada a Paixão de Cristo, pode se tratar de mais um exemplo de como os vínculos com a religião vão se alterando, confirmando considerações anteriores. A abstinência prescrita pelo estoicismo cristão cede lugar às determinações das relações de troca.
Nossa espiritualidade: o misticismo
As lucubrações deste livro bem que poderiam alcançar crendices, feitiços, assombrações e mandingas, as construções da expressão simbólica tentando impor restrições ao sobrenatural, na esteira dos fundamentos religiosos “manter sagrado o que é sagrado”. “É a crença nas almas, o temor dos espíritos, o medo do medo, a adoração dos antepassados, a coligação com os espíritos e os mortos, a adoração da natureza e a reflexão filosófica”. Complementarmente averiguar as mudanças ocorridas com o tempo.
Lobisomem e mula sem cabeça eram os mais presentes. Quando morria alguém, ninguém dormia de noite, principalmente se fosse assassinado. “Só desacismavam daquele quando outro morria”. Na beira da ponte costumava aparecer ora um caixão branquinho, ora um lençol estendido. Um porco soltava fogo pelas ventas. Fazer mal ao desafeto, enterrar pedaço de fumo, cabelo, sapo seco, sola de sapato. Fazer signo de Salomão no rasto de uma pessoa provoca terrível dor de dentes. Chá de fragmento de carneira de chapéu faz marido abandonar a mulher. Confirmar se uma pessoa é feiticeira, basta rezar o Credo pelas costas. Se ela olhar para trás… Há benzeções e simpatias de cura de cobreiro, peito zangado, jeito, dor de barriga em nenê, sapinho, brotoeja, quebranto ou mau olhado, dor de dente, bicheira, queimadura, estancar sangue — sangue “aquiete” em suas veias, como “Jisuis” está na sua ceia —, achar objeto perdido ou espantar baratas, pulgas e bichos. Perder medo de defunto, beijar os seus pés. Chá de língua de pica-pau faz criança falar depressa. Virar a vassoura atrás da porta espanta visita demorada. Secar verrugas? Botar sal e depois jogar ao fogo. Terçol se cura passando nos olhos três folhinhas de arruda molhadas e jogando para trás. Fazer rapaz gostar da moça, quebra-se ovo nas costas da pretendente, fritando e dando a ele de comer. Mangangá dentro de casa má notícia. Briga de galinha na porta da cozinha visita de mulher. Pegar as coisas pela janela é chamar atraso de vida. Passar debaixo do arco-íris faz homem virar mulher. Sonhar com fumo, ou dente, sinal de morte. As flores guardam simbolismos: acácia é amor puro, o trevo, incerteza, alecrim, ciúme e begônia, cordialidade.
Várias destas crenças ainda persistem, pelo menos entre as populações de baixa renda das cidades menores e no meio rural. Mas, a racionalidade avança e os persistentes vão mudando a cara, tomando mais a feição de folclore. Papai Noel vê restringir cada vez mais a faixa etária de alcance. O avanço da ciência e da tecnologia, a tela do computador, as naves espaciais mostradas na televisão ou, ainda, as mudanças no ensino fundamental, da pregação religiosa e vividos os anseios por democracia, tudo isso, enfim, vai tornando sem sentido, ou sem função muitas dessas montagens a partir do imaginário. Esses fantasmas estão recuando. Sobrevivem, é fato, lendas mais ou menos consolidadas apesar do pequeno tempo histórico de presença, o turismo agradece.
É o caso da estória do Mestre Justo. A Serrinha, onde ele morava, atraía fiéis na fama de milagreiro e oráculo. Nas orações apoiadas nos Evangelhos, exercitava suas capacidades mediúnicas e a prática da caridade desdobra-se na lenda de sopa aprestada em pequeno recipiente, mas saciando a fome de todos os presentes, não importava quantas pessoas dela se servissem. Era a providência na multiplicação de pães em versão sertaneja. Muitas metáforas podem ser construídas e tantas análises podem ser feitas a partir desta manifestação cultural. Esse eremita não come ervas silvestres, ele cozinha. A premiação da fé se dá na subjetivação da fartura, na espera pelo milagre, na transcendente projeção, solução daqueles que não conseguem amealhar, objetivamente, as suas necessidades básicas de sobrevivência.
E, inevitavelmente, como acontece aqui e ali, está bem composta a lenda da imagem de São Roque, negando-se terminantemente a mudar para a nova igreja construída. O atavismo da contrição ao local de origem montou essa posição de rebeldia, traduzindo o desagrado dos devotos em reação à mudança. Necessidade cultural de se opor ao novo, quando ele perturba aquilo que está bem assentado, aceito e acomodado.
O Dr. José Pessoa contribui com a história de tiroteio ocorrido durante uma procissão de São João. O fato se deu lá no Arraial das Perobas, município de São Gotardo. Depois de toda aquela aflição, só restava mesmo ao “sô” padre recolher o andor, benzer os fiéis e dar por encerrada a devoção do dia. Qual não foi a surpresa ao ver que a imagem tinha desaparecido? O santo festeiro “deve ter pulado do andor, descido o “corgo” Vira-Saia, o Rio Pirapetinga, atravessado o Indaiá via Fragata e Cedro e nunca mais aparecer nas Perobas”, corre esse boato.
Esses relatos falam das figuras populares, os tipos de ruas, os andarilhos. Existiu e sobrevive até hoje essa tão triste mazela. Espíritos deslocados, caminhando ao largo da ordem social esperada.
Na roça, persiste ainda o proveito da flora da medicina alternativa. A arnica é ótima nas dores musculares, luxações, pancadas e picadas de insetos. A calunga, amarga, alivia indisposições hepáticas. Quebra-pedra, na finalidade ditada pelo próprio nome. A mangaba é de serventia no controle do diabetes. É enorme a lista de prescrições de chás, pomadas e unguentos. Várias unidades rurais mantêm um canteiro com cheiros.
A alimentação.
Pelo menos três equivalências são facilmente encontradas nos diversos lugares trilhados nesse esforço de levantamento e análise.
De início, a melhoria geral de condições e de cuidado do preparo dos alimentos. Antigamente, nas casas de colonos ou mesmo de fazendas, a desfeita pela recusa de tomar uma água ou comer um pão de queijo era quase obrigatória na dúvida quanto às condições sanitárias do preparo. Agora, mudou. Numa das propriedades foi servido graciosamente um café de primeiríssima, somente disponível em ambientes mais requintados. Se não bastasse, escaldado com água de fonte filtrada em cafeteira italiana. E os biscoitos? Sabor inigualável, aprontados nos moldes dos melhores preceitos. No café da manhã dos hotéis e pousadas, mesmo os mais simples, pode-se apreciar bolos de fubá e pães de queijo de primeira linha.
A segunda reporta ao condicionamento da cultura em torno das receitas em geral. Seja na troca de conhecimento ou na oportunidade de preparo, exerce-se a prosa embutindo etnografia, o jeito local de ser, os traços culturais e a história do lugar. E as prescrições são de domínio público, não é maçonaria, conhecimento registrado em patente, ou transmitido durante gerações.
A terceira traduz a simplicidade ainda vigente. O comum é o singelo, o trivial, sem tantos ingredientes ou manipulação complicada. Não existem pratos sofisticados, nem agressivos do ponto de vista de condimentos ou estranhos. Bem regrados, nada pesado ou oleoso (tirante a carne de porco). A amostragem não anotou pegadas do toucinho, tão comum nas fazendas de antanho, nem sobre o fogão, tampouco nas prateleiras.
Frutas tais como a pera e o pêssego são consideradas estranhas. A turma ataca ecológica e sustentavelmente na manga, no mamão, e no abacaxi. A goiaba, a laranja e a banana imperam na mesa patriarcal de doces.
Entre os utensílios e equipamentos, as novidades amenizam a dureza do dia a dia. O fogão a gás e o micro-ondas ocuparam as beiras dos córregos. A panela de pressão faz dueto com o bem-te-vi.
Usos e costumes: valores e influências.
Nos valores praticados e no jeito de ser geral, o tempo traz não poucas modificações. Saint-Hilaire conta de sua passagem por Formiga [9] “no verso e no reverso” reunido com várias pessoas: “falou-se sobre a França, e me perguntaram se era verdade que lá as mulheres eram tão livres quanto tinha afirmado outro francês que ali passara antes. Confirmei as palavras do meu compatriota, e as informações que dei pareceram de tal forma estranhas a eles que um dos presentes, levando as mãos à cabeça, exclamou: ‘Deus nos livre de tamanha desgraça!’. Aqueles amáveis sujeitos não conseguiam imaginar que um prisioneiro pudesse achar que nada devia ao seu carcereiro”. E pode-se acrescentar, na cola de certo pensador, aqueles “bugres” não percebiam que o aprisionado, ao quebrar os grilhões, liberta o seu algoz. Essa “desgraça”, aos poucos, vai chegando ao nosso sertão. Nas cidades maiores pelo menos, os tabus vão se desmoronando, com o advento da pílula anticoncepcional e graças aos novos entrantes, mais importantes, na lista de preocupações. Não sem pagar preço eventual frente cada transição. Se antes era coisa de cada geração, agora, as inquietações fazem parte do cardápio de cada dia. Mas Saint-Hilaire informou nas notas deixadas sobre Araxá: “Como em todo o resto da província, o número de prostitutas é ali considerável”. Não citou nomes, Dona Beja, Candinha da Serra ou Josefa Pereira, mas que estavam por lá tantas infelizes, acudindo os tropeiros, isso é coisa tida como certa. E logo à frente: “Dizem que há na região muitas pessoas casadas, mas que a fidelidade conjugal é pouco respeitada”. Só não esclarece se o adultério era privilégio de gênero.
Num desses lugares um cartaz anunciava as atrações de um circo, ali montado recentemente. Encerrando a noitada, a companhia apresentava uma peça teatral sob sugestivo chamamento: “Os bandidos da Serra Morena”. Entre as memórias de infância, guardo a viva lembrança da chegada em Araxá de uma vistosa empresa desse tipo de recreação. Da mesma maneira, coroava as atrações da noite uma encenação no palco da peça “O cego de Barcelona”. Agora, juntando os dois acontecimentos, distantes 70 anos, é de se pensar em alguma regularidade presente em nosso interiorzão. A magia da ribalta somente se apura nos mistérios ibéricos? Se a cura via mediunidade alcança melhor credibilidade quando associada a médico alemão desencarnado, existe uma correspondente superioridade em atração advinda do fascínio andaluz, da paixão cigana? Pois não é que o Chapadão do Bugre, de Mário Palmério, recebe visita circense, com direito a uma peça teatral sob apelo irresistível: “Amore e Sangue”. O título é italiano, mas o tema e a encenação em castelo, bem se vê, é coisa de espanhol, nas lutas catalãs de Isidora. Deveras interessante — a dominação do Escorial sobre Sintra deixou suas marcas.
Usos e costumes: a música.
Nessa mesma curta cronologia, constata-se profunda mudança cultural alcançando nossa canção sertaneja. De Cascatinha e Inhana a Xitãozinho e Xororó, as mudanças são visíveis (ou audíveis): o aumento contínuo de complexidade, a começar pelo volume de vendas, em discos, shows, marketing de produtos e serviços, comercialização de marca e tanta coisa mais, agora em níveis e condições que as duplas antigas dificilmente teriam imaginado. O “vibrato” (trinado) praticamente não existia. Mudou a motivação das letras e temas, embora certos resquícios ainda persistam — os “versos tão singelos… o meu sofrer, a minha dor” ecoam em “é que a viola fala alto no meu peito”. Os arranjos, o instrumental, as vestimentas, os recursos, de reprodução, luz e fogos das apresentações, tudo, enfim, se sofistica. As feiras, exposições e rodeios são abrilhantados por dezenas e dezenas dessas parcerias, dizem os sites específicos. A demanda justifica as alterações, segundo o interesse e o gosto. Quem sabe um dia se escreverá algo compondo uma sociologia dessa nossa música. Até lá aproveito um texto da distinguida fonoaudióloga Lorena Rosa:[10]
“O canto sertanejo surgiu no Brasil no século passado, na década de dez, por meio do jornalista e escritor Cornélio Pires, que costumava trazer para os centros urbanos os costumes dos caipiras. A música retratava em sua letra a tristeza do peito sertanejo ou o lado alegre do caipira (Caldas, 1987; Andrade, 1989; Publifolha, 2000). Torna-se importante fazer distinção entre música caipira e música sertaneja. A primeira é o resultado da fusão das culturas indígena, europeia e africana e só canta sobre a vida no campo, histórias de bichos, chegando muitas vezes a ser fábula musicada; eventualmente, conta “causos” ligados à religião e entreveros resultantes do contraste entre pessoas e coisas caipiras e urbanas. No que diz respeito à criação da música caipira é, normalmente, coletiva, sendo comum o anonimato, tanto da letra quanto da melodia. A música sertaneja, por sua vez, é a música caipira feita nos grandes centros urbanos por não-caipiras, “fabricadas” por imitação, humorismo ou comércio puro e simples; só fala de temas da cidade, sendo, em geral, mais dramática e negativa, com perdições, traições e adultérios. Apesar das características bem diferentes, ainda guardam algumas identidades: a música sertaneja prolifera nos mesmos lugares onde se sedimentou a cultura e a música caipiras – Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Paraná. O público consumidor é o mesmo e a forma nasalada de cantar foi mantida e parece ser uma estratégia de venda bem-sucedida na música sertaneja. Embora as músicas caipira e sertaneja se tornem, a cada dia, mais distintas, é inegável que a música sertaneja descende dos traços da caipira” (CALDAS, 1987).
Usos e costumes: o sotaque.
Quanto à fala, vários traços da mineiridade encontram-se presentes aqui e ali, na entonação cantada e em expressões capitaneadas pelo recorrente “uai”. Em Carmo, é mais evidente. As cidades menores e o meio rural ressaltam a estrutura e o vocabulário “caipiras”. Ainda se ouve, mormente no campo, o jeito espreguiçado, engolindo a sílaba final, carregando, torcendo ou mesmo omitindo o “r”, dependendo da sua posição no vocábulo. Menos “arretado” comparativamente a, digamos, 50 anos atrás. Ao contrário, a maioria dos artesãos e seus familiares incorporaram o modo citadino de se expressar, nos contornos e no conteúdo.
Nos centros urbanos, mais ainda, esse traço se esmaece sob a ação do tempo, contando com a colaboração do aumento da escolaridade e da influência dos meios de comunicação, aplainando os usos e os costumes. Entre as crianças e os idosos, em especial nos estratos de menor renda familiar, é possível perceber mais presentes o sotaque e aplicações do vocabulário “mineirês”. As crianças talvez ainda herdem algo do “dialeto” dos mais velhos, nas primeiras etapas da aquisição do idioma. Depois, na continuação do processo de socialização, nos bancos escolares, no sofá em frente à TV e na convivência em geral, vão se distanciando dessa referência original.
Saint-Hilaire registrou o uso de vocábulos emprestados do espanhol: sierra, ciudad, de la (em vez de da), gobernador. [11] Pelo menos no meio rural era comum o uso do entonces. No idioma de Cervantes significa “naquele tempo”. No interior significaria “então”, incluindo na pronúncia a influência ibérica. Esta herança vem se diluindo.
Enfim, na regra geral, pelo menos na região estudada, o jeitão mineiro de se expressar vai desaparecendo. Talvez não tenha até se feito presente mais intensamente, pelo menos na parte mais ao sul do espaço sob estudo avizinhado com o falar paulista. Dessa maneira, vai ficando hoje mais por conta do folclore, restrito às brincadeiras e piadas virtuais, ou a estudos antropológicos de interesse específico.
Na esteira, “dimudaram” os nomes que “fazem gosto” na pia batismal. Minervina, Zé Cilistrino, Orozimbo, Randolfo, Belmira, Teodoro, Matilde, Sebastiana, Ambrósia, Arquidâmia, Teodorico e Emengarda, hoje em dia quase mal se vê — nem nas lápides dos campos santos.
— Tenha a santa paciência! Estratela Dinuca do Nascimento??? Isso lá é nome que se ponha na criança? — esbravejava o notário. — Nós estamos no Brasil!!! Essa não! Embolada estrangeira e ainda por cima em italiano?
— Uai, sei não, seu dotô! Sô da roça, narfabeto, foi minha dona qui mandô botá ansim, deferênça prá mãe dela.
— Ainda por cima isso, repetindo nome esquisito, como se chama a sogra!
— Bão, a graça dela é Balduina. Mais eis trat’ela di Nuca. .
João Velloso editou o excelente dicionário do dialeto “geraisano”.[12] Colecionou algo em torno de absurdos 7.000 verbetes e os apresentou de feitio elaborado, associando exemplos e referências de vários tipos. Uma empreitada de fôlego. Congratulações!
Usos e costumes: as ocupações antigas.
Cônego Ivo trata da lida das pessoas, em diversos ofícios, em São Roque ainda vila. Identificando cada profissional pelo nome, ele relaciona fabricantes de polvilho, farinha, sabão e adobe, carpinteiros e marceneiros, pedreiro, parteira, tingideiras e tecelãs, armador de arreio, trançador (de chicotes, relhões, laços e cabrestos), fazedor de gamelas, barbeiro, tirador de formiga, ferrador de animais, furador de cisterna, sapateiro, fogueteiro, fazedor de fumo, criador de abelhas, latoeiro (lamparinas, candeias e cafeteiras), armeiro, vassoureiro, benzedor, curador, feiticeiro e, por fim, talvez a mais interessante de todas, tirador de filhote de papagaio nos coqueiros. Torrar café, cada casa acudia sua necessidade, era tarefa das mulheres, com cuidado para não tomar vento, se não “estuporava”. Essas ocupações, ou se transfiguraram, ou não mais existem. Não está totalmente errado dizer que elas indicavam resquícios de feudalismo tardio, de escambo, autossuficiência da cidade, possível em lugar tão afastado, mesmo sendo início do século XX.
O queijo e a reprodução da vida.
Este item detalha o que se conseguiu identificar, compreender e registrar das regularidades referidas ao queijo no espaço investigado. Aquelas mais presentes, em sentimentos, comportamentos, valores, crenças, e expectativas da interação, enfim, das experiências comuns praticadas pelas populações. Algumas análises comparativas cabíveis estão incluídas e, ainda, averiguação das possíveis influências da globalização sobre o elenco de hábitos, ao impor uma uniformização de valores, atitudes, comportamentos, aspirações e padrões de relação, em prejuízo da diversidade cultural, submetendo o singular, excluindo especificidades.
A cidade e o campo experimentam transmutações. A partir do pós-guerra vêm se metamorfoseando em sociedades agrícola-industriais, capitalistas, adquirindo outros hábitos de consumo. Essa lógica se impôs sobre todos, uma força da qual não foi possível se “esconder até passar”.
Quanto à presença da artesania de leite cru tradicional no pensamento e no jeito de ser das populações da região, considerando as opiniões das quase 300 pessoas entrevistadas, vi o nosso queijo zanzando um tanto acanhadamente pelas ruas de São Roque de Minas, Medeiros, e Lagoa Dourada. A presença é mais tênue ainda, pouco perceptível, em Vargem Bonita, Tapira, Carmo e Rio Paranaíba. Nas demais cidades pesquisadas, Araxá, Ibiá, Piumhi e Bambuí, são raríssimos os vestígios espontâneos de vínculo simbólico com o referido produto.
Ao contrário do doce nordestino, o queijo por aqui não “celebra, identifica, nomeia ou compõe”. As pessoas não o aclamam nas manifestações, ele não se apresenta, de peito aberto, entre os símbolos, não é explicitado enquanto componente cultural, participando de valores ou crenças relevantes. É alimento, tem gosto e sabor, é verdade, mas, repetindo, não figura destacadamente na lista dos traços culturais compartilhados dos grupos sociais urbanos em geral. Então não foram encontrados reflexos correspondentes a elevada condição de Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil. Trata-se de uma constatação pessoal, qualitativa, carente de medição mais objetiva. Contudo, passados dez anos desde a realização do levantamento, uma vigorosa troca se operou na produção, divulgação, e principalmente, na fatia que o produto representa na renda local. Sendo desta maneira, nova pesquisa hoje deve encontrar um quadro bem mais favorável. O queijo mineiro artesanal estaria assumindo lugares bem mais preponderantes na interação dos habitantes.
Em relação aos artesãos, a maioria dos entrevistados era de proprietários, com produção aprovada junto ao IMA. Não é difícil identificar em todos eles certa satisfação de ter alcançado tal posição, certo orgulho da condição de artesão diferenciado. Uma das “patroas” queixou-se das muitas providências visando atender aos preceitos de higiene, em cada entrada e saída de uma queijeira. Fora isto, não revelaram saudosismo ou preferência pelas condições anteriores de elaboração. Ao contrário, valem de terminologia mais técnica, de quem conta com aportes científicos ao processo de produção. Essa característica completa um quadro bem interessante de vantagens. Se os fazendeiros antes conheciam bem o seu mister, e davam boa conta de todas as tarefas e elementos pertinentes à sua ocupação e à sua propriedade, eles o faziam empiricamente. Agora somam forças com a tecnologia, aperfeiçoando sua atividade.
O bom humor é a tônica. Todos se apresentam serenos, alegres. O ambiente da recepção à gente de fora, não vê as possíveis preocupações com os compromissos assumidos, problemas de saúde, o dinheiro contado, certamente presentes no cotidiano da maioria.
Pode-se verificar a interação cotejando dados da produção atual do queijo. Essa referência, embora aproximada, ao destacar objetivamente a existência da atividade, condiciona, de mais ou menos, a presença econômica no lugar e, consequentemente, pode traduzir a maior ou menor influência sobre as demais interações sociais vigentes.
Se a qualidade é tradicional, a produção torna a destacar Medeiros e São Roque de Minas. Ou seja, decorridos dois séculos, continuam figurando como os principais baluartes da sua produção. Essa constatação junta força aos achados das pesquisas, confirmando a mais forte presença do produto junto às populações dessas duas cidades. Bambuí é a campeã da produtividade, seguida de perto por Medeiros. A Emater e os produtores de São Roque e de Vargem Bonita devem conhecer a razão dos seus desempenhos mais baixos e saber quais medidas corretivas devem ser tomadas (se ainda necessárias em 2022). O capricho é tão maior?
A tabela a seguir é um resumo das três primeiras perguntas da pesquisa, indicadoras da ligação da população local com o queijo. Para cada local, o quadro mostra: o tamanho da amostra (quantas pessoas foram entrevistadas) e quantas respostas foram apresentadas a cada uma das três citadas perguntas (o mais importante segundo os moradores, o que acham que os visitantes veem como mais destacado, e quais os alimentos são mais percebidos), e nas quais tenha afigurado o queijo. Então, em Araxá, diante das duas primeiras indagações, ninguém o citou. Na terceira, 18 pessoas (18,4% dos entrevistados) incluíram o queijo na resposta (como alimento mais importante da cidade).
São Roque é a mais “antenada”. Todos olham o queijo como alimento de referência. É seguida por Medeiros (66,7%), confirmando-se o esperado. As duas cidades continuam como principal polo de produção e identidade do queijo. Seguem, Piumhi (53,3%), Bambuí (52,4%) e Vargem Bonita (42,9%), reforçando a região da Canastra como guardiã da ligação. Piumhi é a campeã em espontaneidade (20,0% das respostas diante da primeira e da segunda perguntas, não referidas a alimento).
O extremo oposto vem de Lagoa Formosa, Rio e Carmo (do Paranaíba) e Ibiá, apresentando tênue ou nenhum vínculo com essa referência cultural. Araxá e Tapira coincidem na baixa adesão de 18%.
Na média total geral, um em cada três habitantes considera o queijo como símbolo. Mas diante das duas primeiras perguntas, que não induzem as pessoas, a situação é bem desfavorável, se não lamentável. Somente 3,8% das pessoas, efetivamente, veem com alguma firmeza o queijo como patrimônio local. Confirma-se, mais uma vez, a tênue interação.
A percepção na capital
Em levantamento correlato em Belo Horizonte, foram entrevistadas 47 pessoas nas ruas, bares, consultórios e amigos (estes, via e-mail).[13] A cada uma delas, foi perguntado se conheciam ou ouviram falar algo sobre as cidades sob análise. O resultado foi o seguinte:
Os locais foram apresentados na ordem acima a cada entrevistado (quando do levantamento, Ibiá ainda não tinha sido incluída como objeto de estudo. Sua posição nos resultados deve ser intermediária).
Na medida geral, apenas 16,6% das pessoas conhecem as cidades citadas, 38,7% ouviram falar e 44,7% ignoram ou não se lembram de ter notícia delas. Não contamos com dados equivalentes de outras regiões de Minas, mas não parece de todo ruim.
Araxá é ponto bem fora da curva. Foge do padrão geral. Se for retirada da contagem, as médias se modificam (11,3%, 39,2% e 49,5% respectivamente). Elas precisam empreender esforços de marketing na capital fazendo crescer a sua presença no conhecimento médio da população. Medeiros, Tapira, Rio Paranaíba, Lagoa Formosa e Vargem Bonita (esta, campeã do desconhecimento) devem investir mais. Com o incremento ao turismo, Casca d’Anta há de diminuir esse isolamento.
Deste mesmo levantamento resultou outro quadro, a seguir. Ele apresenta as referências citadas pelas pessoas quando perguntadas sobre o que cada cidade lembra, oferece de importante. Os números entre parênteses indicam quantas citações ocorreram em cada “atração”.
Coerentemente com o quadro anterior, Araxá se destaca nas referências conhecidas, abocanhando 68% das memorizações. Seguem, Bambuí, com 10,5%. Medeiros, Lagoa Formosa, Tapira, Vargem Bonita e Rio Paranaíba frequentam a ponta com fraca identificação.
Talvez o mais importante dessa planilha seja mostrar que em toda a importante região produtora, o queijo aparece em apenas 6,6% das citações e somente em duas cidades: São Roque e Carmo. Está fraco, débil, deveras. Sugere necessidade de mais propaganda. As demais cidades devem buscar a fórmula utilizada por Carmo com tão boa presença, mesmo não sendo uma das mais famosas quanto ao queijo. Essas indicações são maiores comparadas às percepções espontâneas autóctones (mostradas antes). Quer dizer, na média geral o pessoal de fora lembra mais o queijo quando referido a essas cidades que seus próprios habitantes. Interessante.
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NOTAS
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Em cuidadosa análise de textos e ajuntando contribuições de diversos autores (Vianna Moog, Silvio Romero, Paulo Prado e Sérgio Buarque de Holanda), Dante Moreira Leite traçou uma proposta de um quadro geral do caráter nacional brasileiro, os padrões comuns à nossa identidade. ↑
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LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo: Pioneira, 1983. ↑
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TORRES, João Camillo de Oliveira. O homem e a montanha. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. ↑
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DEMO, Pedro. Introdução à sociologia. São Paulo: Atlas, 2002. ↑
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TORRES, 2011. ↑
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DEMO, 2002. ↑
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A partir de 1930 apareceria outro grande expoente do espiritismo: o famoso Chico Xavier, conhecido igualmente no estrangeiro. Nascido em Uberaba era, portanto, filho da região de produção de queijos artesanais do oeste. ↑
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Alcunha utilizada pelos próprios sacramentanos: tudo passa perto, mas lá mesmo não tem. Com o tempo, a linda cidade trouxe ao mote um tom carinhoso. É nesse sentido que está sendo utilizado no livro, no caso particular do autor, redobrado por ter sido a terra que acolheu um seu bisavô vindo da Itália. ↑
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SAINT-HILAIRE, 2004. ↑
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ROSA, Lorena L. C. Vibrato sertanejo: análise acústica e correlatos fisiológicos no trato vocal. 2003. XX f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo-USP, São Paulo, 2003. ↑
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SAINT-HILAIRE, 2004. ↑
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VELLOSO, João Vitor F. Pipocas! Dicionário quase etimológico do Gerais. Belo Horizonte, (s.l.), 2009. ↑
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O levantamento, sem definição de amostra e método de coleta, não guarda tanto rigor científico. Foram escolhidos dois pontos principais de pesquisa: nas proximidades do Mercado Central e nos calçadões da étoile da Savassi, abrangendo, portanto, duas classes distintas de renda. Não entrevistei mulheres, de abordagem mais complicada no meio da rua. Então, talvez os resultados sejam até conservadores porque, supostamente, os homens são mais “viajados”. Se tivesse incluído mulheres, os percentuais de “Conheço” talvez tivessem sido menores. A propósito, esses referidos percentuais são ligeiramente superiores nas entrevistas da Savassi, como seria de se esperar.↑
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NOTÍCIAS
“O Creative Urban Institute (Oregon – USA) faz o levantamento das cidades mais “descoladas” do mundo.
Seria cidade legal e atrativa para o público jovem. Destaca o estilo de vida na era digital. A nota final é resultado de ponderação sobre presença de festivais de tecnologia, provedor de internet de alta velocidade, condições de trânsito, número de startups, cafeterias, lojas familiares, alimentos disponíveis direto do produtor, densidade de arte de rua, nível de ensino superior, entre outros (Correio de Minas, 26/3/2022)”.
A nós, particularmente, interessam duas constatações. A primeira é a de que duas cidades mineiras figuram entre as 10 primeiras do mundo: Santa Rita do Sapucaí e Tiradentes. A segunda (aí entra o queijo artesanal) vem do fato de considerarem como “descolado”, jovem, moderno, os produtos “farm to table”, ou seja, privilegiando a produção caseira, íntima, favorecendo a economia local.
Curiosidades
A produção de queijo pelo “Homo Sapiens” coincide com a domesticação de animais, portanto, “a dez mil anos atrás”, tal como na canção. E pode-se dizer, simbolicamente, que para cada ano há um tipo diferente, contando inclusive o leite utilizado (vaca, cabra, ovelha, égua e até porca, este de difícil obtenção).
Pois bem. Entre todos eles há os muito estranhos, diferentes, singulares. O destaque mais exótico, mais bizarro, talvez seja ocupado pelo “Casu Marzu”, da Sardenha, Itália. A sua fermentação típica é mais decomposição, de “queijo estragado”, produzida por larvas de uma espécie de mosca, introduzidas deliberadamente sobre as peças. As larvas chegam a medir quase 1 cm de comprimento e, quando perturbadas podem se lançar a distâncias de 15 cm. Algumas pessoas retiram esses semoventes para apreciar o queijo, outras não. E há os mais “ousados” que preferem degustar somente a “proteína”. Alguns deles se divertindo em “catar” os esguios bichinhos com miolo de pão.Observação: por razões sanitárias esse queijo já foi oficialmente banido. Mas ainda é fabricado na clandestinidade.