TRANSDISCIPLINARIDADE: CONCEITO E APLICAÇÃO
Oficinas Transdisciplinares – Vila Olímpica da Maré (VOM)
Autoras: Maria Clara Sodré, Ed.D; Maria Beatriz Ligièro
INTRODUÇÃO
A Transdisciplinaridade é uma nova abordagem científica e cultural, uma nova forma de conhecer a natureza, a vida e a humanidade, a qual surge como consequência inevitável do impacto do aparecimento das novas tecnologias na vida em sociedade. Na abordagem tradicional de educação, o conhecimento é oferecido nas escolas dentro de uma perspectiva fragmentada do mundo, através das diferentes disciplinas. Porém a sociedade contemporânea tem exigido das pessoas diferentes habilidades para o desempenho de tarefas múltiplas e para a busca por soluções sistêmicas para os desafios que se apresentam a todo instante. Em outras palavras, há uma demanda para maior profundidade na compreensão de mundo, o que leva à importância de formação polivalente.
A sociedade ocidental tem se desenvolvido a partir das ideias de dois grandes filósofos – a lógica binária excludente de Aristóteles (ser ou não ser), e a racionalidade de Descartes (fragmentação, descontextualização, simplificação, redução, objetivismo e dualismo – penso, logo existo). O modo de pensar que se originou daí divide o conhecimento e fragmenta a realidade. Segundo Akiko Santos[1], esse modo de ser tem direcionado o olhar das pessoas exclusivamente para o que é racional e objetivo, desconsiderando a emoção, o sentimento, a intuição, a sensibilidade e a corporeidade, que fazem parte da dimensão da vida. A Transdisciplinaridade surge na busca do sentido da vida através das relações entre os diversos saberes – ciências exatas, ciências humanas e artes, numa democracia cognitiva.
O que se busca é uma mudança de atitude, uma nova forma de ver e entender a natureza, o ser humano e a relação entre os dois. O crescimento sem precedente do conhecimento dá legitimidade a esta mudança. Segundo Nicolescu[2], é indispensável a criação de pontes entre as diferentes disciplinas, e isto já vem acontecendo, desde meados do século XX, com o surgimento da multidisciplinaridade ou pluridisciplinaridade (estudo de um objeto de uma disciplina por várias disciplinas, ao mesmo tempo) e da interdisciplinaridade (transferência de métodos de uma disciplina para outra). Porém a Transdisciplinaridade vai além, ela se refere a aquilo que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das disciplinas e para além de qualquer disciplina. Através dela, propõe-se uma mudança no sistema de referência das discussões planetárias, mudança esta apoiada em três exigências básicas:
- considerar vários níveis de realidade;
- trabalhar com a lógica do Terceiro Termo Incluído; e
- abranger a visão da complexidade dos fenômenos.
Com relação aos vários níveis de realidade, o que se busca é a construção de conceitos multidimensionais. Por exemplo: no estudo do ser humano, o homem é estudado pela biologia, pelas ciências humanas e sociais, pela sua história, e assim por diante. Porém a soma de todos esses estudos não nos diz o que é o homem. A Transdisciplinaridade busca construir uma conceituação multidimensional, que leve em conta os vários níveis de realidade, ou seja, a vida e sua relação com o meio ambiente, com o todo. Mais ainda, é preciso partir de outra lógica, aprender a estabelecer diálogos entre as disciplinas, a questionar as estruturas de pensamento, os sentimentos e as emoções que deles decorrem. Sem esta transformação na maneira de pensar, de agir e de sentir não será mais possível ensinar.
Com relação à lógica do Terceiro Termo Incluído, o que se busca é o estabelecimento de uma nova lógica, que não se baseia no clássico “falso” ou “verdadeiro”, ou no “é” ou “não é”. Aqui se apresenta uma terceira lógica, a da complementariedade dos opostos. Embora não se negue a lógica do “sim” ou “não”, considera-se a existência de um terceiro termo, ou Terceiro Termo Incluído. Esta lógica facilita o cruzamento de olhares, na construção de um sistema coerente e aberto, que permite compreender os fenômenos sociais e políticos. A lógica de Aristóteles propõe a exclusão do diferente – uma coisa é ou não é, o que dá lugar ao racismo, ao fundamentalismo religioso, à noção de bem ou mal. A lógica da Transdisciplinaridade transgride as fronteiras das disciplinas, e constrói um novo conhecimento entre, através e além das disciplinas, um conhecimento integrado em função da humanidade, resgatando as relações de interdependência, uma vez que a vida se constrói nas relações mantidas entre o indivíduo e o meio ambiente.
Com relação à complexidade dos fenômenos, o que se busca é o reconhecimento da complexidade intrínseca dos fenômenos, ou seja, o reconhecimento de que a vida se manifesta na complexidade das relações entre disciplinas que são estudadas separadamente pelas ciências – ciências exatas, biológicas e humanas. Diz respeito, portanto, ao que ocorre de forma intrínseca aos fenômenos. A negação da interdependência entre Ciência e Cultura significa negar o próprio sujeito, desconsiderando o sentido da vida. Na verdade, o diálogo entre os estudiosos constitui uma prática necessária pois, no diálogo, a tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas, o que possibilita uma nova perspectiva em religião, em política, em arte, na educação e na vida social.
Surge então um novo princípio de relatividade, no qual nenhum nível de realidade constitui um lugar privilegiado a partir do qual é possível compreender os outros níveis de realidade. Na visão transdisciplinar, a realidade é multidimensional e também multirreferencial, não excluindo, porém, o rigor acadêmico no seu estudo. Isto implica em atitude transcultural, transreligiosa e transnacional
A atitude transcultural: na visão multicultural, o diálogo entre as diferentes culturas é enriquecedor, enquanto na visão intercultural, existe a descoberta de culturas pouco conhecidas ou desconhecidas que indicam potencialidades de nossa própria cultura, antes desconhecidas. Porém na visão transcultural, há a abertura de todas as culturas, transcendendo as culturas, permitindo ou abrindo as portas para a visão transdisciplinar. As diferentes culturas são, na verdade, as diferentes facetas do ser humano, levando a um diálogo entre todas as culturas.
A atitude transreligiosa: o modelo transdisciplinar da realidade lança uma nova luz sobre o sentido do sagrado. Segundo Nicolescu[3],
“A atitude transreligiosa não está em contradição com nenhuma tradição religiosa do mundo ou com nenhuma corrente agnóstica ou atéia, na medida em que essas tradições e correntes reconhecem a presença do sagrado. Com efeito, essa presença do sagrado é nossa transpresença no mundo. Se amplamente espalhada, a atitude transreligiosa tornaria impossível qualquer guerra religiosa”.
A atitude transnacional: o reconhecimento da Terra como pátria mãe é um dos imperativos da Transdisciplinaridade. Isto não implica na desvalorização ou no desaparecimento das nações, mas no reforço do que há de mais criativo e de mais essencial em cada nação. As nações poderão dar nascimento ao transnacional, e o transnacional poderá eliminar o egoísmo nacional, gerador de tantos conflitos.
2. A EDUCAÇÃO TRANSDISCIPLINAR
O surgimento de uma nova cultura só será possível através de um novo tipo de educação, uma educação que leve em conta todas as dimensões do ser humano. A Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, da UNESCO, propõe quatro pilares que darão estrutura a um novo tipo de educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser.
Aprender a conhecer: significa aprender a fazer conexões entre os diferentes saberes e os seus significados para a vida e entre esses saberes, seus significados e as capacidades interiores de cada um. Significa estabelecer pontes entre as diferentes disciplinas e as suas aplicabilidades para a vida pessoal e profissional de cada pessoa, na formação de indivíduos que estarão continuamente renovados e adaptados às exigências cada vez mais variadas da vida.
Aprender a fazer: significa criar as condições para o surgimento de pessoas autênticas, pessoas que possam desenvolver as suas potencialidades. Fazer também significa descobrir o novo, criar, trazer à luz as potencialidades criativas de cada indivíduo sem, porém, exacerbar a competição, substituindo-a pela cooperação em função da criatividade pessoal de cada um.
Aprender a viver em conjunto: significa aceitar as diferenças de opinião, de etnia e de crença; significa ter uma atitude transcultural, transreligiosa e transnacional, o que permitirá compreender mais a própria cultura, defender melhor os interesses nacionais e respeitar melhor as diferentes convicções religiosas.
Aprender a ser: significa descobrir condicionamentos pessoais, descobrir a harmonia ou desarmonia entre a própria vida e a vida social e testar as bases de convicções pessoais. É uma aprendizagem permanente, na qual os professores aprendem com os alunos e os alunos, com os professores, profissionais de diferentes áreas aprendem uns com os outros, da mesma forma que pessoas de diferentes gerações, uma vez que a formação de uma pessoa passa inevitavelmente pela dimensão transpessoal.
Na visão transdisciplinar há uma transrelação que liga os quatro pilares do novo sistema de educação e que tem sua origem em nossa própria constituição como seres humanos: como aprender a fazer aprendendo a conhecer e como aprender a ser aprendendo a viver junto? A educação atual privilegia o intelecto, em detrimento da sensibilidade e do corpo. Embora isto tenha sido necessário em determinada época, para permitir a explosão do conhecimento, a educação atual tem que levar em conta o ser integral, e não apenas um de seus componentes. A visão transdisciplinar tem demonstrado sua validade e sua importância no processo de levar quem estuda qualquer assunto a conseguir maior profundidade e maior compreensão do assunto.
Durante o I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade em 1994, Lima Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu[4] criaram a carta da Transdisciplinaridade, na qual foram definidas competências que os professores devem necessariamente desenvolver para serem capazes de planejar, executar e avaliar projetos transdisciplinares, e são elas:
- Compreender e mostrar no desenvolvimento do projeto que a Transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar e, portanto, não a exclui;
- Entender e trabalhar com os educandos durante o desenvolvimento do projeto a idéia de que a Transdisciplinaridade faz emergir, do confronto das disciplinas, novos dados que se articulam entre si e que oferecem uma nova visão da natureza e da realidade;
- Compreender que a Transdisciplinaridade permite o diálogo das ciências exatas com as ciências humanas e também com a arte, a literatura, a poesia e desenvolver projeto de ensino dentro dessa perspectiva;
- Reconhecer que o ensino por projeto transdisciplinar não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Ele deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. Entender que a educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, do imaginário, da sensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos;
- Compreender e incorporar, no desenvolvimento do projeto, a noção de que a ética transdisciplinar recusa toda atitude que se negue ao diálogo e à discussão, qualquer que seja sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica ou de gênero;
- Compreender e trabalhar com os educandos, no desenvolvimento do projeto, que o rigor, a abertura e a tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar. Reconhecer que o rigor, na argumentação que leva em conta todos os dados, é a melhor barreira em relação aos possíveis desvios; a abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível e a tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas;
- Reconhecer que os projetos podem se configurar de formas diferentes, mesmo quando se parte de um mesmo tema em diferentes espaços escolares;
- Utilizar o poder de argumentação e não de imposição ao sugerir um tema a ser desenvolvido através de projetos;
- Aceitar e muitas vezes acatar sugestões de alunos no desenvolver do projeto;
- Criar dispositivos de interesse nos alunos pelo tema do projeto, para que eles consigam desenvolvê-lo de forma entusiástica até a sua conclusão;
- Redirecionar as ações de um projeto quando as ações que estão sendo utilizadas não estiverem favorecendo o seu desenvolvimento.
3. A PRÁTICA DA TRANSDISCIPLINARIDADE NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO
Embora no Brasil os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) se fundamentem nessa nova forma de pensar – ao proporem a superação da visão fragmentada do conhecimento, o que se vê nas escolas ainda é o ensino tradicional, onde o conhecimento é visto através das diferentes disciplinas. De acordo com a proposta dos PCNs, pretende-se que haja a implementação, na sala de aula, do enfoque sistêmico, contextualizado e centrado no desenvolvimento de competências. Esta mudança não é fácil, visto que a idéia da fragmentação dos saberes existe desde Descartes. Uma forma de aplicar na prática os entendimentos de uma visão transdisciplinar é a educação através de projetos transdisciplinares.
A educação através desses projetos permite que conexões entre conteúdos disciplinares e áreas de investigação sejam estabelecidas e também que se criem articulações entre conteúdos a serem estudados e questões que emergem do cotidiano. O conhecimento transdisciplinar emergente estabelece a correspondência entre o mundo exterior e o mundo interior do sujeito, mediante um diálogo que acontece entre ambos, e traz consigo a dimensão ternária do conhecimento (três níveis de realidade) que, por sua vez, estabelece um novo sistema de valores, diferente da lógica binária e fragmentada do ser humano. A abordagem transdisciplinar pressupõe uma pluralidade complexa e uma unidade aberta das culturas, religiões e visões sociais e políticas de cada povo. E a atitude transdisciplinar pressupõe a valorização tanto do pensamento quanto da experiência interior, tanto da ciência quanto da consciência, tanto da efetividade quanto da afetividade, numa coerência entre o fluxo de informações e o fluxo de consciência. Segundo Nicolescu, a Transdisciplinaridade pode ser compreendida como sendo a ciência e a arte do descobrimento de novas pontes estabelecidas entre as diferentes áreas do conhecimento e as diferentes pessoas, entre o espaço exterior e o espaço interior, que são dois lados de um único e mesmo mundo.
No planejamento de atividades transdisciplinares é preciso que se levem em conta as competências necessárias para o desenvolvimento de projetos transdisciplinares. Aqui partiremos dos descritores das competências para discutir o planejamento de um projeto transdisciplinar.
A Transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar e, portanto, não a exclui. Transdisciplinaridade não implica em que se ignorem as diferentes disciplinas, ao contrário, é necessário considerá-las e planejar atividades que incluam diferentes disciplinas e que vão além delas, numa visão holística de ser humano e de meio ambiente. Implica em que o professor busque possíveis relações ou pontes entre as disciplinas, em torno do assunto escolhido como tema transdisciplinar, indo além de seus limites, oferecendo outras informações que poderão despertar o interesse e a curiosidade dos alunos.
A Transdisciplinaridade faz emergir, do confronto das disciplinas, novos dados que se articulam entre si e que oferecem uma nova visão da natureza e da realidade.
As curiosidades e interesses que emergem, ao se oferecerem as diferentes disciplinas e as pontes que as conectam, possibilitam o surgimento de novos dados que se articulam para indicar novos pontos de interesse que complementam a visão que os alunos têm de natureza e de realidade. O professor precisa ficar atento quanto aos diferentes interesses dos alunos, e também manter sua própria mente aberta para trazer para o projeto e para os alunos, sempre que possível, novos assuntos e novas perspectivas na maneira de olhar para o tema do projeto.
A Transdisciplinaridade permite o diálogo das ciências exatas com as ciências humanas e também com a arte, a literatura, a poesia.
No estudo do homem, por exemplo, surge o diálogo da Biologia com a História, da História com a Antropologia, da Antropologia com a Arte através dos milênios, e assim por diante, numa construção cada vez mais abrangente, complexa e bela. A busca de novas conexões se torna um exercício fascinante, no qual os diálogos crescentes levam a um mundo cada vez mais profundo e pleno de significado, e onde a curiosidade dos alunos é instigada a cada momento.
A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, do imaginário, da sensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos.
Na educação transdisciplinar a intuição, a imaginação e a sensibilidade, que não tinham espaço na educação tradicional, ganham dimensão especial, valorizadas como essenciais para o conhecimento mais profundo das questões, da mesma forma que o corpo passa a ocupar um espaço de destaque, no qual o saber físico tem tanta importância quanto o saber intelectual, na transmissão de conhecimento.
A ética transdisciplinar recusa toda atitude que se negue ao diálogo e à discussão, qualquer que seja sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica ou de gênero.
A ética transdisciplinar, ao recusar a atitude que se negue ao diálogo e à discussão, propõe que se pense a todo momento, na questão da qualidade de vida para todos, ou da vida que vale a pena ser vivida por todos. Assim, ao abraçar uma expansão do conhecimento através das relações estabelecidas entre as diferentes disciplinas, a Transdisciplinaridade propõe um ambiente sem discriminações, onde todos são acolhidos, em todas as suas especificidades, sejam elas de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica ou de gênero, sem qualquer julgamento de valor que separe ou que classifique os saberes, as origens, as tradições, etc.
O rigor, a abertura e a tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar.
O rigor acadêmico de cada disciplina tem que ser mantido, apesar de se buscarem as relações entre as várias disciplinas. A abertura subentende a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível, mantendo-se, no entanto, o conhecimento intrínseco de cada área de estudos. Da abertura surge a tolerância, que é a aceitação do outro, reconhecendo o direito às idéias e verdades diferentes ou mesmo contrárias às nossas.
Os projetos transdisciplinares podem se configurar de formas diferentes, mesmo quando se parte de um mesmo tema em diferentes espaços escolares.
É fundamental o entendimento de que não há um receituário de projetos transdisciplinares, nem há apenas uma forma de se planejarem os projetos. Uma das belezas dos projetos transdisciplinares é que a prática permite a exploração da criatividade dos professores e também dos alunos, que podem colaborar com suas idéias para um projeto que seja interessante, rico de idéias, que desperte curiosidades e facilite novas idéias. No entanto, enquanto se privilegia a flexibilidade, para que haja espaço para a exploração contínua da criatividade dos atores envolvidos, é indispensável um planejamento claro e rico em possibilidades. Criatividade, indagações, curiosidades não surgem do nada. Um bom planejamento, ainda que flexível, é um norteador de onde se quer chegar, e de que forma se deseja chegar.
O poder de argumentação e não de imposição deve ser usado para sugerir um tema a ser desenvolvido através de projeto transdisciplinar.
Na construção e no desenvolvimento de um projeto transdisciplinar é importante que se mantenha permanentemente um ambiente democrático, de diálogo, de argumentação, onde todas as idéias relacionadas de alguma maneira com o tema sejam ouvidas e discutidas, em ambiente sociomoral, onde não há a idéia de que alguma disciplina ou algum ponto de vista seja mais importante do que outras ou outros. Segundo Maria Cândida Moraes[5]
“O projeto transdisciplinar exige do professor a criação de ambientes e contextos de aprendizagens mais dinâmicos e flexíveis, mais cooperativos e solidários. Exige, também, a criação de ecossistemas educacionais nos quais prevaleça a solidariedade, a parceria, a ética, a generosidade, o companheirismo, o diálogo na busca constante de soluções aos conflitos emergentes, bem como respeito às diferenças e o reconhecimento da diversidade cultural, da existência de diferentes estilos de aprendizagem que tanto enriquecem as experiências individuais e coletivas, experiências que tanto embelezam nossas vidas”.
As sugestões de alunos devem ser ouvidas ou mesmo acatadas no desenvolvimento de projeto transdisciplinar.
Como parte da ideia democrática de contribuição de todos, as ideias dadas por alunos, desde que pertinentes, devem ser ouvidas e, eventualmente, acatadas. O projeto transdisciplinar tem, como um dos objetivos, estabelecer condições para o surgimento de pessoas autênticas, criativas. E, para tanto, é preciso que os alunos tenham a total liberdade de explorar possibilidades, testar argumentos, em ambiente que não comporte competições entre os alunos, as quais não levam em consideração a dimensão interior dos seres humanos e, sim, uma competição do indivíduo consigo mesmo, na tentativa de alcançar objetivos cada vez mais complexos.
Dispositivos de manutenção do interesse dos alunos pelo tema do projeto devem ser criados.
Projetos transdisciplinares devem explorar estratégias que favoreçam a variedade de espaços, de tempos, de linguagens, de recursos e novas formas de expressão, o que permite a manutenção do interesse dos alunos pelo tema escolhido. As estratégias devem ser bem pensadas e bem planejadas, sempre que possível a partir de diferentes dimensões humanas e de diversos olhares, o que requer, na maioria das vezes, trocas com especialistas, para garantir que o planejamento ofereça um espaço de construção do conhecimento aberto ao que acontece no mundo, no ambiente, no entorno sociocultural, voltado para a solução crítica e criativa dos problemas do cotidiano.
As ações de um projeto transdisciplinar devem ser redirecionadas sempre que necessário.
Finalmente, para garantir que o interesse, a curiosidade e a participação dos alunos permaneça sempre ligada ao tema do projeto, é preciso considerar a possibilidade de redirecionamento do tema sempre que, apesar de todo o esforço de planejamento e desenvolvimento das ações do projeto, se perceba o desinteresse dos alunos.
Em suma, nas palavras de Frederic M. Litto e de Maria F. de Mello, no livro Educação e Transdisciplinaridade (p. 151):
“A Transdisciplinaridade, em uma rápida explanação, é um modo de conhecimento, é uma compreensão de processos, é uma ampliação da visão de mundo e uma aventura do espírito. Transdisciplinaridade é uma nova atitude, uma maneira de ser diante do saber. Etimologicamente, o sufixo trans significa aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de toda disciplina, remetendo à idéia de transcendência. Transdisciplinaridade é a assimilação de uma cultura, é uma Arte no sentido da capacidade de articular. Por isso após revisitar, com grande respeito, rigor e inclusão: o conhecimento, a noção de valor, o contexto, a estrutura, a pesquisa, a competência, a oferta, o método e o ser humano, traz sua própria contribuição integradora e globalizante”.
4. A PRÁTICA DA TRANSDISCIPLINARIDADE NA VILA OLÍMPICA DA MARÉ
As atividades na Vila Olímpica da Maré, no Programa EDUCAR PELO ESPORTE, não estão atreladas a modelos escolares de ensino/aprendizagem e, por isso mesmo, se usufrui de maior liberdade nos planejamentos de suas atividades educativas. O que se pretende ali é a implementação de um enfoque educacional mais sistêmico e contextualizado, que permite maiores trocas entre as diferentes disciplinas ou áreas de ensino/aprendizagem.
Nem todas as ações educativas desenvolvidas na VOM são transdisciplinares, no sentido de envolverem mais de uma disciplina. No entanto, mesmo as que não são têm, da parte de seus professores, um foco transdisciplinar, na medida em que todos têm uma atitude transcultural, incentivando um diálogo entre diferentes culturas, valorizando posturas éticas e oportunizando que os alunos aprendam a conhecer, a fazer, a viver em conjunto e a ser, numa visão educacional mais próxima da sugerida pela UNESCO na Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI e de acordo com os postulados da Transdisciplinaridade.
Nas ações verdadeiramente transdisciplinares desenvolvidas na VOM professores, de diferentes formações e responsáveis por diferentes disciplinas, planejam atividades nas quais mais de uma disciplina é abordada. Nessas aulas enfatiza-se que:
- Dados de diferentes disciplinas se articulem entre si e ofereçam uma nova visão de natureza e realidade;
- Diálogos se estabeleçam entre diferentes disciplinas (esporte e ciências, por exemplo);
- A ética perpasse todas as ações
- Argumentações e diálogos sejam priorizados em vez de imposições;
- Sugestões de alunos sejam ouvidas e mesmo acatadas.
A seguir são apresentados alguns exemplos de aulas planejadas e desenvolvidas na VOM, dentro da visão transdisciplinar.
EDUCADOR: JORGE LUIS F MEDEIROS (OFICINA DE MECÂNICA)
INTRODUÇÃO: As atividades seguintes têm, como público ideal, alunos entre 5 e 14 anos e devem ser direcionadas a grupos de no máximo 20 crianças.
AÇÃO 1: PRESSUPOSTOS DO ESPORTE
OBJETIVO: Apresentar aos alunos as XIV, XV, XVI e XVII definições de Euclides, respectivamente:
XIV – Esfera é uma figura sólida descrita pela revolução inteira de um semicírculo ao redor do seu diâmetro, que se considera como imóvel.
XV – Eixo da esfera é aquele diâmetro ao redor do qual o semicírculo faz a sua revolução.
XVI – Centro da esfera é o mesmo centro do semicírculo.
XVII – Diâmetro da esfera se chama qualquer linha reta, que passa pelo centro da esfera, e se termina de uma e outra parte na superfície da mesma esfera.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Conceito de figura geométrica, elementos de uma figura geométrica, conceito de sólido.
MATERIAIS: 1. Globo Terrestre, Bola de Futsal e Esferas de isopor de diversos diâmetros.
PROCEDIMENTOS: 1. Apresentar aos alunos o globo terrestre e perguntar se eles sabem o que é, para que serve. Em seguida perguntar o que é uma esfera e o que é um sólido. 2. Perguntar sobre exemplos de esferas e seus elementos.
3. Distribuir esferas de isopor de diversos diâmetros para que eles possam ter contato com elas e posteriormente com o globo terrestre conforme a figura 2.
4. Logo após iniciar discussão sobre todas as coisas que se associam com os princípios trazidos. Outros conceitos devem ser adicionados como conceito de dia noite, e fazer relações, auxiliando os alunos a perceber que as bolas de futebol, basquete, tênis, entre outras são esferas. Depois explicar que a Terra é um Esferoide oblato.
AÇÃO 2: QUANDO E ONDE OCORREU?
OBJETIVO: Apresentar e contextualizar os princípios da Física básica aplicada ao esporte.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Alavanca e Natação.
MATERIAIS: 1. Ripa de freijó de 1.50 X 0.02 X 0.05m, dois alteres de 5 Kg unidos por fita adesiva transparente e um fulcro feito de um tubo, usado, de desodorante spray.
PROCEDIMENTOS: 1. Os alunos devem ser convidados a se aproximarem e tentarem levantar os 10Kg dos alteres com o dedo mínimo esquerdo. Eles não conseguem.
2. tentar levantar os 10Kg dos alteres com a mão esquerda.
3. tentar levantar os 10Kg dos alteres com as duas mãos.
4. Colocar os alteres em uma ponta da ripa, colocar o fulcro entre os alteres e a outra ponta da ripa e pedir para que tentem levantar com as duas mãos fazendo força na outra ponta: todos devem conseguir. 5. Pedir para que tentem levantar com uma mão fazendo força na outra ponta: todos devem conseguir. 6. Pedir para que tentem levantar com o dedo mínimo esquerdo fazendo força na outra ponta: todos devem conseguir. 7. Depois ajudar os alunos a estabelecer relações entre a força e o braço da máquina e no final fazer relações entre o braço do nadador e a alavanca.
EDUCADORA: DÉBORA MATTOS (OFICINA NATURALISTA)
INTRODUÇÃO: As seguintes atividades têm como público ideal alunos entre 7 e 12 anos e devem ser direcionadas a grupos de no máximo 10 alunos.
AÇÃO 1: ESPORTE AQUÁTICO E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁGUA
OBJETIVO: Apresentar aos alunos as características físicas da água
PRINCIPAIS COMPONENTES: Características da água e reflexão da luz
MATERIAIS: 1. Garrafa com água potável 2. Copos descartáveis 3. Caixa de papelão 4. Lanterna 5. Duas garrafas de refrigerante descartáveis, uma com água e outra com água misturada com barro.
PROCEDIMENTO: 1. Para apresentar às crianças as características da água: Inodora, Insípida e Incolor, previamente sirva um pouco de água potável para cada aluno e peça para que eles sintam o cheiro, observem a coloração e degustem-na. 2. Questione sobre essas afirmações. A partir das respostas, explique sobre os conceitos envolvidos. Mostre a importância da manutenção destas características da água potável e da água da piscina. 3. Para demonstrar o desvio da luz em diferentes meios, como na água sem impurezas ou com impurezas, coloque as duas garrafas descartáveis dentro da caixa e posicione a lanterna em direção à garrafa descartável com água sem impurezas e observe que a luz ultrapassa o meio, ou seja, é refletida na caixa de papelão. Repita o procedimento usando a garrafa com água com barro (com impurezas), verifique que o feixe de luz não é refletido no fundo da caixa, constatando que as impurezas desviam a luz. 4. Amplie o conhecimento do grupo informando que em ambientes naturais a água com muitas impurezas não permite que os raios solares atravessem a água e prejudica o ecossistema. Isto ocorre por exemplo com a água do mar porque a taxa de fotossíntese da água do mar diminui a produção do oxigênio, o qual é essencial para a respiração dos seres vivos.
AÇÃO 2: A LÂMINA INVISÍVEL
OBJETIVO: Apresentar e contextualizar a propriedade Tensão superficial da água.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Preservação da água e poluição por detergentes.
MATERIAIS: 1. Uma bacia transparente; 2. Talco; 3. Detergente; 4. Água.
PROCEDIMENTOS: 1. Levante os conhecimentos prévios do grupo sobre a existência de insetos que podem andar na água sem afundar, questione o por que isso acontece, bem como a postura de ovos de insetos na água. Informe ao grupo que a água possui uma lâmina que não podemos ver mas que existe. 2. Demonstre a existência da lâmina. Coloque água na bacia em um nível acima do meio, deixe em repouso e acrescente o talco, ele irá ressaltar a lâmina que se forma na água com o contato das moléculas de água na superfície com o ar atmosférico. Explique o conceito de Tensão superficial e a importância da sua manutenção para o ciclo de vida de muitos insetos, invertebrados e consequentemente para os animais que fazem parte da cadeia alimentar. Demonstre o efeito de poluidores, como os detergentes, que agem rompendo a tensão superficial da água, colocando detergente na água que está com o talco e observando o efeito. O talco afunda e não consegue boiar na água. Coloque mais talco nesta mistura e verifique que a lâmina foi rompida, pois o talco não consegue mais se manter na lamina de água.
3. Discorra sobre a importância de preservar os rios, as águas e consequentemente de também preservarem as várias cadeias alimentares destes ambientes. 4. Amplie o conhecimento do grupo conversando sobre o que acontece nas águas paradas e limpas quando o mosquito transmissor da dengue põe os ovos.
EDUCADORA: ALINE ARAUJO (OFICINA DE LINGUAGEM)
INTRODUÇÃO: As seguintes atividades têm como público ideal alunos entre 7 e 12 anos e devem ser direcionadas a grupos de no máximo 10 alunos.
AÇÃO 1: PRESSUPOSTOS DO ESPORTE
OBJETIVO: Apresentar aos alunos alguns conceitos importantes para a apreensão (compreensão) da prática esportiva, tais como Determinação, Concentração, Atenção e Foco.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Pressupostos do esporte e Signo lingüístico.
MATERIAIS: 1. Texto ou Vídeo sobre o esporte; 2. Jogo de palavras; e 3. Dicionário.
PROCEDIMENTOS: 1. Apresente aos alunos um pouco sobre a história do esporte que eles praticam. O ideal é que tenha um suporte teórico ou audiovisual para ilustrar.
2. Questione sobre o que é importante para a completa aprendizagem do esporte. A partir das respostas, fale sobre os conceitos que o perpassam (Determinação, Concentração, Atenção e Foco). 3. Mostre as palavras mencionadas divididas em sílabas de forma que os alunos as formem. Busque no dicionário o significado delas e divida com o grupo.
AÇÃO 2: QUANDO E ONDE OCORREU?
OBJETIVO: Apresentar e contextualizar os principais fatos ocorridos desde o surgimento do esporte praticado pelo grupo.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Fatos históricos e Análise do globo terrestre.
MATERIAIS: 1. Suporte audiovisual (TV ou Computador); 2. Vídeo produzido sobre a história do esporte; 3. Globo terrestre.
PROCEDIMENTOS: 1. Apresente um vídeo sobre os fatos históricos ocorridos desde o surgimento do esporte e mostre-o pausadamente a fim de estabelecer uma interação dos ouvintes. Discuta o contexto em que eles ocorreram, e faça uma linha do tempo.
2. Mostre o Globo para contextualizar espacialmente também. Por exemplo: No caso de alunos de Karatê, podemos falar sobre imigração japonesa, fazer distinção entre os dois países no que diz respeito à posição geográfica. 3. Discorra sobre as noções de Rotação e Translação, Estações do ano, Fuso horário, entre outros conceitos.
AÇÃO 3: JOGO DO PERCURSO
OBJETIVO: Culminar as atividades anteriores com um jogo de percurso que contenha os conceitos trabalhados.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Competição e Retrospectiva.
MATERIAIS: 1. Jogo de percurso produzido especialmente para a ocasião, de acordo com os temas abordados; 2. Dado; 3. Peões (que podem ser tampinhas de garrafas pet coloridas).
PROCEDIMENTOS: 1. Produza o jogo de forma que entre as casas haja perguntas sobre os conteúdos trabalhados. Os acertos deverão fazer o peão avançar e os erros, permanecer no lugar. 2. Apresente as regras às crianças antes de iniciar a partida, organize o tabuleiro e separe os peões. 3. Peça para que cada um jogue o dado de uma vez para saber quantas casas avançar. Conforme os jogadores forem parando nas casas indicadas, proponha os desafios para que eles avancem. Esses desafios devem conter os temas já abordados com a turma. O jogo termina quando o 1º peão chega ao fim do percurso. 4. Aproveite para reforçar a ideia de uma competição saudável.
EDUCADORA: REJANE XAVIER
INTRODUÇÃO: As atividades descritas abaixo, com as turmas de ginástica artística, compõem uma sequência didática com níveis de aprofundamento em diferentes aspectos e áreas de conhecimento englobando: a lógica matemática, história, geografia, linguagem e movimento. Para nortear o trabalho foi usado um tema gerador em todas as discussões: a História da ginástica artística.
CONTANDO A HISTÓRIA DA GINÁSTICA OLÍMPICA
OBJETIVO: Dialogar sobre a história da ginástica artística.
PRINCIPAIS COMPONENTES:
Pressupostos sobre a ginástica artística, e signo linguístico.
MATERIAIS: Livrão com a história da ginástica olímpica (livro ilustrado confeccionado sobre a origem da ginástica artística), mapa mundi, globo terrestre, folha branca flip chart, régua e caneta hidrocor.
PROCEDIMENTOS:
- Iniciar a atividade com uma linha do tempo em branco para ser preenchida com fatos importantes que possibilitem aos alunos conhecerem a história da ginástica artística. Fazer algumas perguntas para descobrir o que os alunos sabem sobre a ginástica artística, se possuem conhecimento de quando e onde a ginástica surgiu. Conforme as crianças expressem o seu saber histórico, marcar somente antiguidade, antes de Cristo (AC), depois de Cristo (DC) e dias atuais
- De acordo com as respostas o docente deve avaliar o quanto do passado histórico eles conhecem, e escolher por onde começar; pelos acontecimentos da atualidade, ou pelo final da linha do tempo, o passado histórico.
- Conforme os acontecimentos vão sendo preenchidos na linha do tempo mostrar as ilustrações do livrão da história da ginástica artística: primeiros jogos olímpicos, as principais competições pelo mundo e no Brasil, os ícones e personagens que fizeram história na modalidade.
- Para cada país mencionado na história do livrão, pedir aos estudantes que o localize no mapa político e no globo terrestre, dando liberdade para o manuseio e marcando-o com papel post it colorido.
Observações: A atividade dura, em média, 15 minutos, e o movimento de achar os países no globo terrestre é o que geralmente mais interessa as crianças.
JOGO DA HISTÓRIA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA
OBJETIVO: Conhecer os grandes acontecimentos da ginástica, usando outro recurso: o jogo de trilha.
PRINCIPAIS COMPONENTES:
Identificar os países do jogo no mapa mundi ou no globo terrestre.
Contar, em grupo, as casas da trilha usando os dados.
MATERIAIS: globo terrestre ou mapa mundi, dados, quatro pinos coloridos, jogo de trilha com acontecimentos históricos da ginástica artística.
PROCEDIMENTOS:
- Dividir as crianças em quatro equipes, elegendo um representante em cada equipe para jogar o dado e andar as casas, estimulando que façam a contagem das casas juntos. O restante do grupo ficará responsável em executar o que está escrito na casa onde o número determinado pelo dado cair.
- Explicar as regras e iniciar o jogo.
Observações: Incluir nas casas ações que estimulem a interação de grupo, tarefas de corpo e movimento, dados históricos específicos da ginástica artística, procura de um país determinado no mapa, associação com imagens, etc.
Nessa atividade exploramos o uso dos conhecimentos matemáticos, geográficos e históricos.
VÍDEO SOBRE A HISTÓRIA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA
OBJETIVO: Aprofundar os conhecimentos sobre os grandes acontecimentos da ginástica, usando outro recurso: o vídeo.
PRINCIPAIS COMPONENTES:
Roda de conversa sobre as impressões do vídeo.
Observar as épocas que aparecem no vídeo.
MATERIAIS: Televisão, DVD, mapa mundi, folha branca e caneta pilot. Os filmes sobre a história da ginástica artística: “Olimpíadas no quintal: ginástica artística” e a “História da ginástica artística, parte 3 Nádia Comaneci” são recursos importantes que podem ser usados.
PROCEDIMENTOS:
- Iniciar os vídeos e pedir que observem as épocas diferentes e que anotem os países diferentes citados pelos narradores.
- Conversar sobre as impressões dos vídeos.
- Procurar no mapa os países citados e contar um pouco da história de cada país citado.
- Conversar sobre os movimentos da Nádia Comaneci, de como ela se tornou um ícone da ginástica artística feminina.
NAVEGANDO PELA HISTÓRIA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA
OBJETIVO: Ampliar a visão sobre a história da ginástica pesquisando na internet
PRINCIPAIS COMPONENTES:
Exercitar a escrita.
Despertar o interesse pela pesquisa de palavras novas.
MATERIAIS: computadores, fone de ouvido e internet.
PROCEDIMENTOS:
- Formar duplas e pedir que as crianças assistam aos vídeos e escrevam “história da ginástica artística”. Cada dupla tem a liberdade de escolher o vídeo que mais agradar.
- Observar a escrita enquanto fazem a tarefa.
- Pedir para ficarem atentas às novas palavras que aparecerem no vídeo e procurarem os seus significados.
EDUCADORA: NATÁLIA BRASIL (OFICINA DE EXPERIMENTOS
SENTINDO O ESPORTE
OBJETIVO: Identificar e correlacionar os sentidos e seus órgãos para a prática do esporte. Durante a atividade será estimulada a percepção tátil, o trabalho em equipe, a propiocepção, a cooperação e a lateralidade.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Órgãos e funções dos sentidos humanos
FAIXA ETÁRIA PROPOSTA: Aplicável em qualquer faixa etária, de 7 à 18 anos.
MATERIAIS: 1. Venda para os olhos. 2. Cones plásticos ou uma trave de gol. No exemplo a seguir o esporte em questão é o futebol de campo.
PROCEDIMENTOS: 1. Pergunte aos alunos sobre os sentidos do corpo humano, peça que eles correlacionem cada um ao seu respectivo órgão e façam uma breve explanação. 2. Questione sobre a importância de cada um deles para a aprendizagem do esporte. 3. Proponha uma atividade prática para que o grupo compreenda a importância da utilização dos sentidos mais importantes na prática do esporte em questão. 4. Ao final da atividade, separe os alunos em dois grupos (vendados e não vendados). Pergunte quais foram as principais dificuldades encontradas durante a atividade, em seguida peça que identifiquem os principais órgãos utilizados e sua importância para a prática do esporte em questão. Amplie o conhecimento sobre a manutenção de hábitos saudáveis para a manutenção desses órgãos (higiene; alimentação). 5. A atividade poderá ser repetida com as duplas trocando de lugar, caso haja tempo hábil.
ATIVIDADE PRÁTICA: 1. Os participantes deverão se dividir em duplas nas quais um dos integrantes ficará vendado. 2. A dupla irá jogar uma partida de futebol, sem goleiros, onde o gol deverá ser marcado pelo participante que está vendado. 3. As instruções deverão ser dadas pelo outro integrante da dupla que não poderá tocar em seu parceiro, utilizando somente a comunicação verbal para guiá-lo ao gol. 4. O mediador da atividade deverá posicionar o indivíduo vendado no espaço, evitando que ele se localize diante do gol, utilizando para isto a ajuda do parceiro. 5. É recomendável que o mediador estabeleça um tempo máximo para que o objetivo seja atingido, a fim de estimular a participação de todos os envolvidos.
PREGAS VOCAIS E FONAÇÃO
OBJETIVO
Localizar e identificar as pregas vocais anatomicamente, evidenciando a sua importância para a fonação, bem como o mecanismo através do qual a produção de som acontece. O público alvo desta atividade são os alunos de canto coral.
PRINCIPAIS COMPONENTES: Sistema respiratório: Anatomia e fisiologia
FAIXA ETÁRIA PROPOSTA: Aplicável em qualquer faixa etária, de 6 à 17 anos.
MATERIAIS: 1. Suporte audiovisual (TV ou Computador); 2. Power-Point produzido sobre a anatomia do sistema respiratório, com um vídeo sobre o funcionamento das pregas vocais incluso; 3. Questionário individual para cada aluno sobre dez mitos sobre a voz, 4. Lápis e borracha para responder ao questionário.
PROCEDIMENTOS:
- Faça uma breve explanação sobre as pregas vocais, localizando-as anatomicamente com o auxílio da apresentação no Power-point.
- Discuta sobre a importância deste músculo para a fonação e peça que os alunos correlacionem o seu funcionamento à respiração.
- Sugira aos alunos que neste momento retomem os principais movimentos respiratórios e descrevam as principais modificações ocorridas durante a inspiração e a expiração.
- Faça a exibição do vídeo que demonstra o funcionamento das pregas vocais, para ratificar os conteúdos trabalhados.
- No final da atividade peça aos alunos que respondam a um questionário de múltipla escolha, elaborado previamente, sobre a voz, no qual aborde a questão dos mitos e verdades. Durante a correção retome cada item e indique o motivo pelo qual a alternativa está correta ou falsa.
PROFESSOR: JOÃO BATISTA HENRIQUE (OFICINA DE LINGUAGEM)
INTRODUÇÃO: As seguintes atividades têm como público ideal alunos com idades entre 7 e 12 anos e devem ser direcionadas a grupos de no máximo 15 alunos.
AÇÃO 1
OBJETIVO: A Importância da Prática esportiva
PRINCIPAIS COMPONENTES: Pressupostos do esporte e Signo linguístico.
MATERIAIS: Livro Manual do Pequeno Atleta, Mapa (opcional) e Dicionário.
PROCEDIMENTOS:
- Após conhecer as particularidades da turma, como faixa etária, série escolar e etc., é feita uma abordagem sobre a modalidade esportiva que os alunos praticam e quais outras conhecem e não praticam. Nesse momento é importante o uso de um livro ou texto com imagens esportivas.
- Com a ajuda do livro ou texto é possível questionar sobre diversas modalidades esportivas e suas funcionalidades. Nesse caso, se faz necessário o uso do mapa para localizar e apresentar países praticantes e a origem de tais esportes. Focando na modalidade praticada pelas crianças, é feito um novo questionamento, a importância desse esporte e de que forma contribui para saúde do ser humano.
- Palavras como “concentração, equilíbrio, lateralidade, atenção, respiração”, vão surgir e, nesse momento, é necessário apresentar o conceito de cada palavra, seja pelo aluno ou professor
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AÇÃO 2
OBJETIVO: A história do esporte – apresentar a história do esporte ao longo dos anos e suas transformações. Apresentar ao grupo a história da modalidade esportiva praticada pelo mesmo.
PRINCIPAIS COMPONENTES: História do esporte e principais fatos ao longo dos anos.
MATERIAIS: Vídeo sobre a história do esporte. Mapa.
PROCEDIMENTOS:
- A atividade é sempre iniciada com uma recapitulação do conteúdo trabalhado no encontro anterior.
- Após explicar o que acontecerá na aula, é apresentado o vídeo que mostra a história do esporte e suas transformações ao longo do tempo. Ao longo do vídeo o próprio grupo irá se manifestar pelas imagens e semelhanças com o esporte praticado pelo mesmo.
- Após o vídeo, são feitos questionamentos como: O que vocês viram que assemelha com o esporte que praticam? Quais foram as mudanças que o esporte sofreu ao longo dos anos? A discussão no grupo possibilita a identificação dos principais fatos históricos esportivos, desde a primeira Olimpíada, a inserção das mulheres nas competições, e outros fatos.
- O uso do mapa é essencial nesse momento, pois os alunos podem se localizar e encontrar os países que se destacam em cada modalidade esportiva, além de possibilitar a abordagem de temáticas como o fuso horário, clima pelo Mundo e outros conceitos.
5. CONCLUSÃO
A prática da Transdisciplinaridade na Vila Olímpica da Maré vem alcançando resultados surpreendentes: na forma como os professores se relacionam com o conhecimento, com os alunos e entre si, na forma como os alunos se relacionam entre si e, sobretudo, na forma como os alunos se relacionam com o conhecimento.
Os professores têm participado de grupos de estudo, onde têm a oportunidade de ler e discutir textos que complementam os seus conhecimentos acerca da transdisciplinaridade, bem como textos que versam sobre novas metodologias que enriquecem o processo de ensino/aprendizagem.
Os alunos, ao serem tratados com respeito e de forma não coercitiva estão não apenas se relacionando melhor com os professores, mas aprendendo novas formas de se relacionarem entre si.
Finalmente, os alunos estão aprendendo uma das lições mais importantes da vida, qual seja, que aprender pode – e deve – ser uma atividade divertida. Eles têm a sua curiosidade aguçada pelos assuntos extremamente diferentes com os quais têm entrado em contato e suas perguntas e respostas são valorizadas de tal forma que sentem a necessidade de levar os novos conhecimentos para outros espaços, sobretudo para suas escolas de origem, numa troca construtiva entre as duas instituições.
ANEXO I: CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE
(Adotada no Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade
Convento de Arrábida, Portugual, 2-6 novembro, 1994)
Comitê de redação: Lima de Freitas,
Edgar Morin e Basarab Nicolescu
Preâmbulo:
Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar global do ser humano;
Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e espiritual de nossa espécie;
Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia pela eficácia;
Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas consequências sobre o plano individual e social são incalculáveis;
Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história, aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele, engedrando assim as desigualdades crescentes no seio dos povos e entre as nações do planeta:
Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados possuem sua contrapartida de esperança e que o crescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação comparável à evolução dos humanóides à espécie humana;
Considerando o que precede, os participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de Arrábida, Portugual, de 2 a 6 de novembro de 1994) adotaram o presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.
Artigo 1
Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.
Artigo 2
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.
Artigo 3
A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.
Artigo 4
O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade das noções de definição e objetividade. O formalismo excessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento.
Artigo 5
A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual.
Artigo 6
Com relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte trans-histórico.
Artigo 7
A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.
Artigo 8
A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo – a uma nação e à Terra – constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.
Notas:
-
Santos, Akiko. O que é Transdisciplinaridade. In Rural Semanal, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, I parte. 22/28 de agosto de 2005. ↑
-
Nicolescu, Basarab e outros. Educação e Transversalidade. 1º Encontro Catalisador do CETRANS. 1999. ↑
-
Nicolescu, Basarab e outros. Educação e Transversalidade. 1º Encontro Catalisador do CETRANS. 1999, p. 138. ↑
-
In Nogueira, R., Menezes, N.C.M., Carneiro Leão, A.M.A. & Mayer, M. Ensinando por projetos transdisciplinares. ↑
-
Moraes, M. C. Transdisciplinaridade e educação. WWW.rizoma-freireano.org/index.php/transdisciplinaridade-e-educação. p. 9. (25/03/2013) ↑