√ À Venda [1] – Refinaria Gabriel Passos – Betim, Minas Gerais
Área Total – Cerca de 12,8 milhões de metros quadrados
Refino – Cerca de 24 milhões de litros por dia de petróleo (150.000 barris por dia)
O que diriam para o grupo? Certamente aquilo que de melhor julgam terem produzido no marketing institucional: a sua atual campanha publicitária em prol da privatização. No vídeo promocional, enquanto são exibidas cenas maravilhosas, sugerindo pujança e progresso, argumentam: “… a empresa que construímos juntos… agora precisamos mudar de rumo…”, “… e neste novo caminho o Brasil não terá problemas, pois… a nova empresa resultante contará com ativos de classe mundial, lucrativos…”, “… tampouco não há porque se preocupar, pois estamos privatizando com muito cuidado, escolhendo empresas dignas do que compram…”,“… ninguém precisa de se incomodar, pois os ativos vendidos continuarão a promover o bem do Brasil…”.
A sessão continuaria com algumas perguntas dos participantes: Ora, se precisa mudar, por que tanto insistir nesta necessidade, usando frases de efeito? Se não há porque temer que as empresas compradoras formem cartéis, oligopólios ou nefastos monopólios, então por que dizer para a sociedade, candidamente, que isto não ocorrerá? E se todos trabalham honestamente, com o Brasil no coração, por que a necessidade de dizer para não nos preocuparmos já que estão sendo escolhidas “santas” empresas para continuar cuidando do País?
E, muito mais ainda: Como explicar para a sociedade que algumas empresas compram nossos ativos para se integrarem aos seus, enquanto nós estamos desintegrando o nosso patrimônio? Como justificar que a Noruega, país riquíssimo, conte com uma estatal em um continente que restringe empresas do Estado, por conta da União Europeia (um “Estado” maior), e que esta empresa tenha capital majoritário, além do público, de entidades e cidadãos noruegueses [2] e, ainda, cresça exponencialmente mundo afora contando já com centenas de empresas? Se é bom para eles porque seria ruim para nós? Observando o que acontece com petróleo no mundo, porque haveria tantas empresas estatais, como na Itália, China, Rússia, países árabes, africanos e asiáticos? Seriam eles incompetentes e nós os sábios? Freud poderia explicar.
A verdade, nua e crua, é que a acelerada privatização está sendo conduzida para não haver retorno no desejado apequenamento da Petrobras por questões ideológicas, e que jamais ocorreria nesta dimensão e velocidade em governo que mesclasse adequadamente interesse financeiro, segurança e desenvolvimento econômico e social nacional.
Valendo-se de desculpas, tais como concentrar em atividades mais lucrativas, gerar retorno financeiro para os acionistas (atualmente: União 36,75%; estrangeiros 40,82 %; brasileiros 22,43%) [3], a empresa se desfaz, retira-se de todos os Estados brasileiros, menos dois. A seguir, parece não haver dúvidas, venderá o restante do refino, pois logo as unidades privatizadas “mostrarão os ganhos para a sociedade” (nada como uma boa propaganda para iludir a maioria). E, tristemente, mais uma grande experiência nacional desarticulada consolida a ideia de sermos um “quintal” de países poderosos [4]. O Brasil deixará de ter uma das poucas empresas indutoras do seu desenvolvimento e se contentará, infelizmente, tão somente com produção de dividendos para acionistas – grande parte estrangeiros!
Mas, logicamente, tais opiniões anteriormente emitidas, podem ser vistas por alguns como muito pessoais, não universais. Daí, o nosso cuidado em buscar referencial na mídia, tradicional e tida como não alinhada a extremos. Encontramos uma entrevista, datada de 3/12/2020, que discorre muito bem questões como as que sintetizamos antes. Nela, a “BR Político” entrevista William Nozaki, professor da FESPSP e Diretor do INEEP alinham percepções análogas às que temos apresentado aqui neste site, percorrendo os mais importantes aspectos, desde a complexidade do negócio (do petróleo) até as questões relativas à situação atual da Petrobras e perspectivas. A seguir efetuaremos comentários sobre a entrevista e, ao final, registraremos o seu link.
√ À Venda – Refinaria Landulpho Alves – Mataripe, Bahia.
Área Total – Cerca de 6 milhões de metros quadrados
Refino – Cerca de 50 milhões de litros por dia de petróleo (320.000 barris por dia)
Comentários do Site Brasil2049.com sobre a entrevista do professor Willian Nozaki
Nozaki inicia sua fala comentando a decisão tomada de deixar de ser uma companhia integrada, para focar na exploração das reservas do pré-sal (seguindo o previsto no Plano Estratégico da Estatal). Resulta na retirada da Petrobras de outras atividades, na venda de ativos (inclusive ligados à exploração e produção de petróleo em terra) sob justificativas diversas (corrupção, empresa grande demais, endividamento e mercado monopolizado), todas elas com raízes mais ideológicas que pragmáticas.
Em seguida, o entrevistado discorre sobre as perdas daí advindas:
- Desnacionalização, em três significados: a) a maior parte dos ativos já vendidos, total ou em grande parte, passaram para corporações estrangeiras; b) atuar somente no pré-sal, reduzindo a área operacional ao litoral dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e, portanto, passando a ser uma empresa regional; e c) do conhecimento, na significativa redução dos investimentos em pesquisa;
(Em nossas análises listamos também a) do conhecimento adquirido em outras atividades, em especial, refino; b) no fomento da cadeia produtiva em praticamente todo o território nacional; c) dos programas ligados à responsabilidade social junto às populações ligadas às unidades; d) enxugamento consequente da competência na gestão integrada de negócios e na vanguarda das práticas administrativas)
- Menor flexibilidade financeira, principalmente, não poder compensar o preço baixo do petróleo com rendimentos na produção e distribuição de derivados. Comenta que muitas das grandes empresas estão adotando o caminho inverso, atentas à área de refino, de gás e renováveis como forma de compensar a referida diminuição de ganhos. Mas, a Petrobras pretende, na contra mão, vender o que elas estão querendo comprar;
- Graças ao vigor do pré-sal, o Brasil deverá continuar autossuficiente em petróleo, mas poderá passar a importar derivados. (Nesse caso, estaremos repetindo antiga lógica de vender primários e comprar de volta produtos com maior valor agregado);
- Impedimento de atuar em energia renovável, tal como faz “uma parte significativa de grandes petrolíferas, da Europa e da Ásia”, dificultando uma melhor adaptação aos tempos atuais, de sensibilidade ao meio ambiente, e imprudente despreparo para enfrentar os desafios do futuro. Nesta dimensão, a ambiental, o professor Nozaki aponta para o que pode ser um artifício a ser utilizado pela administração da empresa, qual seja, creditar a seu favor a redução de emissões advinda da venda de ativos.
Nozaki vê um encaminhamento bastante acelerado no atendimento do Plano Estratégico, e percebendo os prejuízos daí advindos, entende que este processo dificilmente será revertido.
A entrevista, afinal, não responde diretamente à pergunta título: “A Petrobras de hoje seria capaz de descobrir o pré-sal em 2006?”. Muito provavelmente ainda conseguiria. O conhecimento acumulado até ontem é muito grande, e não se desfaz de pronto (em dois ou três anos). Contudo, o mesmo não se pode dizer quanto ao amanhã. A continuar assim, acabado o pré-sal, extingue-se o que sobrou da grande empresa brasileira. Se não acontecer antes, em pulverização final.
VER ENTREVISTA EM:
BRP PERGUNTA: A PETROBRAS DE HOJE SERIA CAPAZ DE DESCOBRIR O PRE-SAL EM 2006?
√ À Venda – Refinaria Getúlio Vargas – Araucária , Paraná
Área Total – Cerca de 10 milhões de metros quadrados
Refino – Cerca de 33 milhões de litros por dia de petróleo (207.000 barris por dia)
Notas:
- Apresentaremos algumas das refinarias à venda para o leitor ter uma ideia da dimensão das instalações, pois se fala em vendê-las sem passar a noção de sua grandeza, como se fora mais um simples negócio. Mesmo em uma imagem por satélite não se consegue observar a área total da instalação com nitidez. E, muito menos, os segmentos próximos e a ela conectados, como bases de armazenamento, oleodutos, gasodutos e terminais – todos a serem disponibilizados aos compradores. E menos ainda, a exorbitante riqueza correndo em suas tubulações e tanques, gerando milhões de m3 anuais de produtos de qualidade certificada, alguns deles de elevada especificação e pureza. Serão oito refinarias à venda, e praticamente todos os gasodutos, oleodutos, terminais, termelétricas, petroquímicas, fabricas de fertilizantes, quase todos os campos de petróleo (fora do pré-sal) ↑
- Capital do Estado 67%; Noruegueses 11,5 % https://www.equinor.com/en/investors/our-shareholders.html
- https://www.investidorpetrobras.com.br/visao-geral/composicao-acionaria/. Notar que ao trabalhar no Plano Estratégico em função do retorno financeiro para acionistas, a empresa estará operando para remeter lucros na proporção de 40% para os estrangeiros (na Noruega a estatal deles conta somente com 20% de estrangeiros). Antes, o objetivo da Petrobras era “garantir o suprimento nacional ao menor custo” e, mais tarde, com a quebra do monopólio em 1996, “cumprir papel estratégico no desenvolvimento nacional e no suprimento seguro do País de forma competitiva”. Isto porque, sendo estatal, seu papel constitucional não é gerar lucro para acionistas. ↑
- Ver matéria na Folha e do NYTimes que revela o que pensa destacada figura do governo norte-americano sobre os países latino-americanos.
https://www.nytimes.com/2020/12/02/us/politics/coronavirus-southern-command-china-latin-america.html?smid=wa-share ↑